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quinta-feira, 11 de fevereiro de 2016

Qual é o Nosso Papel no Universo?


 

 

''Um pequeno passo para o homem. Um salto gigantesco para a humanidade. '' - Neil Armstrong

O Sol é uma das 200 bilhões de estrelas na Via Láctea que, por sua vez, é um mero ponto de luz em nosso endereço galáctico: o Grupo Local. Nós, humanos, somos enormemente insignificantes. Somos uma espécie das 10 milhões existentes, em um planeta pequeno que orbita uma estrela das 70 sextilhões existentes no Universo observável. Moramos nos subúrbios de uma galáxia das 80 bilhões espalhadas pelo Cosmos inteiro. Mas, entre 80 bilhões de galáxias, 70 sextilhões de estrelas e 10 milhões de espécies, nós possuímos códigos genéticos e impressões digitais próprios. Nós podemos criar arte, escrever músicas, estudar ciência, questionar acerca de tudo e conviver com pessoas que nos amam. Nós, humanos, também somos enormemente significantes. Durante os nossos 200 mil anos de existência, colocamos, em certos momentos, nossa sobrevivência em alguma dúvida, acumulando perigosas bagagens evolucionárias; gosto por rituais; apelo à violência; submissão a líderes; hostilidade a forasteiros; e um sedento poder pelo ódio e soberania. Adquirimos também compaixão pelos outros; amor por nossas crianças; um desejo imenso de aprender; e uma elevada e apaixonada inteligência. Tudo o que, naturalmente, é fundamental para nossa contínua sobrevivência e prosperidade.

”Quando se destrói um velho preconceito, sente-se a necessidade duma nova virtude.” Madame de Staël.

Caminhamos pela Lua. Exploramos todo o nosso Sistema Solar. De Mercúrio a Netuno. Sobrevivemos a erupções vulcânicas e a última Era Glacial. Eliminamos quase totalmente a escravidão, que nos carregava por séculos. Escapamos da Guerra Fria, o conflito armado onde estivemos mais perto da extinção total da espécie. Já fomos 10 mil e hoje somos 7 bilhões. É difícil prever o futuro. Está ao nosso alcance destruir nossa civilização e, talvez, a nossa espécie também. Se nos rendermos à superstição, à ganância e à estupidez, este, certamente será o nosso destino. Mas também somos capazes de usar a nossa compaixão, inteligência, riqueza e tecnologia, para criar uma vida de significado e abundância para cada habitante deste planeta. Assim, aumentaremos grandiosamente nosso conhecimento acerca de tudo e cumpriremos, inteira e finalmente, nosso papel no Universo.

Dito isto, vem a pergunta, qual o papel do homem no universo? ou por que estamos aqui?  ou qual a razão do sofrimento?” são perguntas que todos se fazem. A maioria não encontra resposta provavelmente porque procura no lugar errado ou porque espera encontrar respostas que não existem. É comum que o homem imagine que existam punições para os maus, recompensas para os bons, provações e testes para descobrirmos se somos merecedores de, seja lá o que for. Porém, em muitos casos, os padrões esperados não se aplicam, por exemplo, por que existem bons que sofrem e maus que jamais são punidos? Nesses casos o homem lança mão da “explicação genérica universal”: razões misteriosas de deus! Teorias complexas para tentar explicar eventos cujas causas não compreendemos e, depois, várias hipóteses para encobrir os furos daquelas teorias, e assim por diante.

 

“Você parou de bater em sua esposa?”

 

A pergunta “Qual o papel do homem no universo?” traz embutida a suposição de que há um papel para o homem no universo, e se assim é, esse papel deve ter sido atribuído pelo “criador”. Assim, a própria elaboração da pergunta nesses termos pressupõe:

a) a existência de um criador;

b) a existência de um plano divino;

c) que os humanos têm grande importância no universo;

d) e, portanto os humanos têm um papel definido (e grandioso) nesse plano divino;

Tendo pressuposto os quatro itens acima se pode perguntar “Qual o papel do homem no universo?”. Suposições demais. Essa pergunta só pode ter a resposta que se espera se os itens acima forem respondidos da maneira que se espera, ou seja, afirmativamente. O fato de jamais ter-se encontrado a resposta esperada é bom indício de que o homem errou ao pressupor a resposta a um ou mais dos itens acima. Um erro grave nas suposições acima, com certeza, é a grande importância que o homem se atribui, que fica evidente nos grifos dos itens (c) e (d). Se o homem não tivesse um ego tão grande não teria seguido uma linha de raciocínio tão errada. Tanto a pergunta “Você parou de bater em sua esposa?” quanto a pergunta “Qual o papel do homem no universo?” são erros de raciocínio, constituindo, mais especificamente, Falácia da Pressuposição.

Descendo do Pedestal

O primeiro passo para entender o papel do homem no universo, na natureza, é justamente observar a natureza. Ao observar a natureza veremos que o homem é um animal. Exatamente igual aos outros animais, nem melhor nem pior, apenas um animal. É fácil entender a frase acima, as palavras, mas assimilar e aceitar a idéia é extremamente difícil. A maioria das pessoas passa a vida toda sem conseguir. O homem é um animal, ponto final. Tendo entendido e aceitado este conceito, as respostas começam a surgir naturalmente. E assim eliminamos as suposições (c) e (d) acima. Sempre observando a natureza vemos a luta dos animais pela sobrevivência e a finalidade ulterior da vida como sendo a reprodução para a manutenção da espécie. Torna-se claro também que para a natureza os indivíduos não têm importância, a não ser para aumentar a probabilidade de reprodução. O mais importante é a espécie. Ou seja, o importante para a natureza é que diversas espécies de vida se propaguem pelo maior tempo possível. Para a natureza a morte de um indivíduo não é um drama, mas antes algo, com o perdão da obviedade, natural! Descartável e irrelevante. Se existe um criador, ele certamente saberá que chegará o dia em que deixará de ser possível a existência de vida na Terra. Qual seria então o objetivo de se fazer com que diversas espécies de vida se propaguem pelo maior tempo possível? Bem, se há um plano talvez o plano seja exatamente esse: vida por algum tempo e depois, fim da vida. Ou então não há plano nenhum. Há apenas o acaso. E assim eliminamos a suposição (b) acima.

Continuando a observar a natureza vemos que nossos companheiros irracionais nascem, crescem, se reproduzem, morrem. Frequentemente sofrem (dor física) quando, por exemplo, quebram a pata ao cair de algum lugar alto e morrem lentamente de inanição ou são comidos vivos por outros animais. Ninguém pensaria em atribuir algum significado esotérico a seu sofrimento. Uma pessoa que, por exemplo, perde as pernas num acidente, fica imaginando quais seriam as razões para esse sofrimento. Uma provação? Um castigo? Do ponto de vista da natureza isso não é mais dramático que uma minhoca que tem seu corpo parcialmente esmagado por um elefante que passava, cuidando da sua vida. Acaso. Ambos estavam no lugar errado na hora errada. O quê? Você não gostou de ver um ser humano comparado a uma minhoca? Ah, então ainda não desceu do pedestal. Volte ao início e tente novamente.

Assim, tudo começa a ficar claro…

P: Qual o papel do homem no universo?

R: Nenhum.

P: Por que estamos aqui?

R: Por acaso.

P: Qual a razão do sofrimento?

R: Existem várias causas para o sofrimento: incompetência ou inabilidade ou estupidez (nossa ou de terceiros), falha mecânica ou elétrica, falha na absorção de serotonina, azar, etc. Contudo, da maneira como é formulada, a pergunta pressupõe alguma razão mística, uma finalidade, para a existência do sofrimento. Essa não existe.

P: O que acontece após a morte?

R: Nada. A morte é o fim. Por isso aproveite bem enquanto tem!

P: Qual o sentido da vida?

R: Nenhum.

P: A professora do sobrinho da cunhada do meu compadre disse que o sentido da vida é o que damos a ela!

R: O que fazemos da nossa vida pode torná-la plena, útil, grandiosa ou não. Porém, a pergunta “Qual o sentido da vida” pressupõe que possa haver um significado (utilidade, propósito) para a existência dos seres humanos. Não há.

P: Há recompensa para os bonzinhos e punição para os mauzinhos?

R: Não necessariamente. Melhor não esperar nada.

P: “Aqui se faz, aqui se paga!”

R: Posso citar vários exemplos de crimes que jamais foram solucionados deixando seus autores impunes, e de criminosos que morreram tranquilamente, de velhice, numa cama quentinha.

P: Se todos acreditarem nisso o mundo será um caos! O que impedirá os homens de se tornarem criminosos?

R: Sua própria consciência, e o medo de sanções da sociedade.

P: Então a vida não tem valor nenhum?

R: Claro que tem… para nós! Afinal somos seres vivos, sem vida não existimos. Mas por que algumas coisas têm valor para uns e nem tanto para outros? Porque “valor” é um conceito relativo, não absoluto; é estabelecido por nós e só tem significado para nós. O conceito de “valor” não existe para o universo, ou seja, para as leis da natureza.

Decepcionantemente simples? É um bom sinal, pois em geral a verdade é simples, a mentira é que costuma ser complicada.

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