Tudo
o que é oculto, secreto, proibido parece chamar mais nossa atenção. E, de fato,
uma aura de mistério envolve os Arquivos Secretos do Vaticano. Se há algo que
fascina as pessoas é a possibilidade ter acesso a dados considerados
“proibidos”, que desafiam a realidade como a conhecemos e provocam nosso
imaginário a conjecturar qual seria, na verdade, a realidade.
Poucas
bibliotecas e arquivos, a não ser o caso da antiga Biblioteca de Alexandria,
ganharam foros de mitificação tais como o Arquivo Secreto do Vaticano. Esta
dimensão de mistério que envolve estes arquivos da Santa Sé ganhou mais
densidade e atenção através da recente obra romanesca de Dan Brown: o seu muito
lido e debatido Código Da Vinci.
De
fato, este arquivo sediado no centro do poder universal da Igreja Católica
guarda mananciais de informação histórica inigualáveis relativos aos povos e
culturas do mundo. Localizados na Cidade de Vaticano, compreendem um local que
reúne documentos relativos a todos os atos promulgados pela Santa Sé. São, na
verdade, um imenso repositório central de informações, que abrange livros,
documentos, correspondências, diários de papas, processos da Inquisição, papéis
confidenciais, imagens e milhares de outros registros que a Igreja Católica vem
acumulando ao longo dos séculos.
Seu
tamanho e extensão impressionam. Estima-se que contenham 85 quilômetros de
prateleiras e que existam 35 mil volumes apenas no catálogo seletivo. No total
são cerca de 2 milhões de documentos que relatam cerca de 800 anos de história
guardados hermeticamente. Eles resguardam toda a trajetória da Igreja Católica,
cada decreto, carta, publicação, processos como os da Inquisição, enfim, toda a
documentação eclesiástica.
Os
representantes do catolicismo afirmam zelar, assim, pelos ensinamentos de
Jesus, para que eles sejam transmitidos de geração para geração sem adulterações.
Assim, ao longo do tempo, textos evangélicos, correspondências apostólicas e
outros escritos foram preservados, bem longe dos olhos do público, pela Igreja.
Desta forma, a solução foi criar um Arquivo que pudesse conter e guardar estes
documentos. Estes arquivos também contêm os documentos sobre a administração do
Vaticano, correspondência e livros de papas, processos da Inquisição, e muitos
outros documentos que a Igreja Católica tem acumulado ao longo dos séculos.
Constituem
uma rede de aposentos e prédios nos quais são resguardados estes tesouros do
Cristianismo, que em seu conteúdo narram toda a História da Igreja Católica. Os
arquivos foram criados para ser consultados principalmente pelo papa e pela
cúria romana. Com o passar do tempo, os Arquivos Secretos do Vaticano se
tornaram um verdadeiro depósito de documentos ligados aos mais variados
processos que envolviam a participação da Igreja Católica na defesa da fé
cristã. Ali há seis grupos de documentos: cúria, delegações papais singulares ou
familiares, concílios, ordens religiosas, mosteiros e confrarias, e outros.
O
complexo está dividido em dois recintos, que possuem a capacidade de receber a
visita de até 1.500 pessoas. Há também um aposento com os arquivos de índices,
uma biblioteca, uma sala de restauração, um laboratório de fotografias digitais
e outro de informática, além do espaço administrativo.
Em
latim, Arquivos Secretos do Vaticano são Archivum Secretum Vaticanum. Nesse
idioma, secretum tem o significado de segredo, mas também de secretário, ou
seja, a pessoa de confiança de alguém. Assim, os Arquivos Secretos poderiam ser
traduzidos como "arquivos de confiança". Isso porque, quando alguma
dúvida surge em assuntos relacionados à Igreja, é a eles que os padres recorrem
para esclarecimentos. Entretanto, há sim um cunho de segredo por trás deles. Na
verdade, nada do que possa sair de suas paredes blindadas é passível de ser
tomado apenas como um simples documento.
Os
"conspirólogos", ou seja, os adeptos das teorias de conspiração gostam
de insinuar que o local é não um simples depósito de dados dos governos papais,
mas uma espécie de área proibida, que guarda detalhes que mudariam a história
não apenas do cristianismo, mas também da humanidade como a conhecemos. E o que
de fato acontece é que apenas uma parte do que há ali é hoje de acesso público,
e por alguns motivos. Primeiro porque os papéis que ali existem são muito
antigos e, a exemplo de museus, que não permitem flashes das máquinas
fotográficas para não danificar as obras, também os Arquivos Secretos protegem
seu acervo, de valor incalculável, já que o simples ato de respirar próximo a
um pergaminho antigo poderia levar à sua irreparável perda.
E
isso acontece mesmo hoje em dia, com a tecnologia de que dispomos. Em segundo lugar,
nem tudo está autorizado a ser divulgado. A publicação dos índices dos
documentos, por exemplo, em parte ou como um todo, é proibida, de acordo com os
regulamentos atuais estabelecidos em 2005. E, em geral, somente depois de pelo
menos 75 anos de sua publicação é que uma parte do acervo se torna acessível.
Essa abertura começou no papado de Leão XIII (1810-1903). Desde 1881, o papa
que está na direção da Igreja Católica tem tomado a iniciativa de abrir o
acesso a papéis de seus antecessores.
A
partir de 1924, uma quantidade maior de textos foi aberta ao público, incluindo
aqueles do período que vai até o fim do apostolado do papa Gregório XVI
(1765-1846). O fato de existir esse lapso de tempo para que determinados
documentos dessa vasta coleção possam ser consultados deixa as pessoas
desconfiadas. Os arquivos ganharam a alcunha de "secretos" não apenas
por seu acesso restrito para a maioria das pessoas, mas também por seu conteúdo
proibido. Isso porque muitos livros, documentos, epístolas, entre outros,
traziam ideias de várias das correntes consideradas heréticas.
Nos
Arquivos do Vaticano é possível encontrar, além dos citados documentos, livros
confiscados e classificados como "perigosos". Entre eles, há até
mesmo antigas edições da Bíblia e cópias dos chamados Evangelhos Apócrifos,
além de dados sobre o código da Bíblia e suas versões mais antigas, denominadas
gematria e teomática. Segundo dizem alguns especialistas, a parte sobre o
terceiro segredo de Fátima, que era somente de conhecimento dos papas e que
teria feito um deles desmaiar ao saber de seu teor, só foi revelada por
iniciativa de João Paulo II. E, mesmo assim, os conspirólogos afirmam que as
verdades divulgadas são falsas e que as legítimas ainda estariam guardadas sob
as sete chaves atribuídas a Pedro.
Os
arquivos foram instituídos em uma época em que a Igreja Católica era
praticamente soberana no mundo e se tornou depositária do conhecimento humano
desde a época da Inquisição, em torno de 1184. Os livros considerados perigosos
por ameaçarem os dogmas estabelecidos pela Igreja eram recolhidos e destruídos,
mas não antes de terem um exemplar lá colocado para consultas futuras, por
parte daqueles que se lançavam na defesa da "pureza eclesiástica”.
Até
aí, eles poderiam compor uma simples biblioteca, que guarda obras que, por
serem consideradas heréticas, não mereceriam tanto destaque, já que a própria
heresia é discutível do ponto de vista tanto religioso quanto do filosófico. Mas,
em uma época de pensamento e regência absolutistas, tudo era imposto. Na
verdade, dos evangelhos apócrifos aos textos escritos por aqueles considerados
heréticos e perigosos, o fato é que, até hoje, não se teve uma explicação
satisfatória por parte dos clérigos do motivo pelo qual esses livros foram
guardados nessa biblioteca.
E
do por que, ainda hoje, de alguns desses escritos ainda não serem de consulta
pública. O que se sabe é que tais escritos eram guardados para um suposto
estudo por parte dos doutores da Igreja para entender melhor a mentalidade
herética e os motivos que os levavam a combater ideias diferentes das deles. Com
certeza, houve casos de clérigos que, após lerem tais textos, resolveram trocar
de lado, mas seus nomes ou são pouco conhecidos, ou simplesmente se perderam na
história.
O
Arquivo Secreto do Vaticano constitui um registro imenso de memória das
relações do cristianismo com a história da humanidade em diferentes épocas.
Acessível a investigadores qualificados e detentores de métodos e competências
de pesquisas avançadas (domínios de várias línguas, conhecimentos em
paleografia, etc.), este famoso arquivo precisa de estudiosos que se dediquem
ao levantamento, à classificação e à análise séria dos oceanos de documentos
ali armazenados. O estudo competente, sistemático e rigoroso das coleções documentais
ali depositadas é a melhor forma de revelar a utilidade da sua riqueza
informativa e contribuir para desmitificar os seus alegados segredos.
O
conhecimento científico deste arquivo contribuirá certamente para exorcizar os
muitos fantasmas que povoam a história do imaginário no que diz respeito ao
Arquivo Secreto do Vaticano. O Cristianismo, na sua unidade e diversidade
carismática e especialmente na sua vertente católica, enquanto expressão
fenomenológica de um sistema religioso, ao nível institucional, doutrinal,
sociopolítico e cultural, é cada vez mais um objeto estimulante de estudo
científico em vários planos.
A
Santa Sé, como outros Estados, procurou preservar e guardar os documentos
relevantes para a sua história, no caso presente para a história da Igreja e do
universo católico. Desde os primórdios do catolicismo que os Pontífices
procuraram preservar os documentos exarados durante o seu exercício. Desta
forma, asseguravam o testemunho da sua ação no futuro. A preocupação em
conservar a memória da Igreja e da ação dos seus agentes não era exclusiva da
cúria papal. O mesmo sucedia nos bispados e nas paróquias. Tal cuidado com a
memória permite-nos dispor atualmente de fontes importantes para o estudo da
presença e da ação evangelizadora da Igreja no mundo.
Devido
a várias vicissitudes históricas e à laicização da sociedade, parte da
documentação produzida e recebida pela Igreja foi incorporada nos arquivos
nacionais. Nos primeiros tempos do catolicismo não existia um local específico
para armazenar e acondicionar a documentação emanada pelos scriptoria dos Sumos
Pontífices, os arquivos eram, tal como as cortes régias, itinerantes. Os
documentos acompanhavam as deslocações dos papas para as suas residências ou
para outros territórios. Eram transportados e armazenados, geralmente, em
arcas. Devido a esta itinerância, e apesar de todos os cuidados, alguns
documentos foram-se perdendo, fruto de acidentes de percurso ou devido à
degradação dos mesmos, pelo fato de as condições ambientais não serem as
aconselháveis à sua preservação.
Atualmente,
o acervo documental do Arquivo Secreto do Vaticano ocupa cerca de 85 km de
estantes agrupados em mais de 630 fundos documentais. Mas este imenso acervo
continua a aumentar anualmente com a incorporação de documentação provinda das
diversas Nunciaturas espalhadas pelos quatro cantos do mundo, das Secretarias
de Estado e das diversas Congregações. O documento mais antigo no Arquivo é o
Liber Diurnus Romanorum Pontificum, do século VIII. O acervo documental é vasto,
pois, de acordo com as palavras de João Paulo II, “é o órgão permanente para a
preservação dos arquivos históricos da Santa Sé e constitui o seu arquivo
central” (Motu Proprio de 25 de Março de 2005, título II, capítulo II, artigo
13).
Inclui
a documentação trocada entre os Sumos Pontífices e os reis, imperadores,
duques, condes e outras personalidades civis do Orbis Christianus, mas também
exteriores, como é exemplo a documentação trocada com as autoridades mongóis. Para
além desta, existe também a correspondência trocada com as autoridades
eclesiásticas, como Bispos, cardeais, entre outras. Entre os diversos arquivos
incorporados no Arquivo Secreto do Vaticano encontram-se os documentos
referentes aos vários organismos da Cúria, das delegações papais espalhados
pelos quatro cantos do mundo, os de família ou de indivíduos/pessoais, os
referentes aos diversos concílios, às ordens religiosas, aos mosteiros, às
abadias e os documentos patentes em miscelâneas.
No
século XVII, sob as ordens do Papa Paulo V, o Arquivo Secreto foi retirado da
Biblioteca do Vaticano e permaneceu totalmente fechado para pessoas não
autorizadas até o final do século XIX, quando foram abertos parcialmente pelo
Papa Leão XIII. Em 1924 mais textos foram disponibilizados, englobando o
período que vai até o fim do apostolado do Papa Gregório XVI, no dia 1 de junho
de 1846. A partir de então mais documentos se tornaram acessíveis em 1966, referentes à permanência de Pio IX à
frente da Igreja, de 1846 a 1878; em 1978, textos sobre o pontificado de Leão
XIII, de 1878 a 1903; em 1985, escritos de Pio X, que se manteve no Vaticano de
1903 a 1914, e de Bento XV, pontífice de 1914 a 1922.
O
Papa João Paulo II, em 2002, tomou a iniciativa de tornar acessível, a partir
do ano de 2003, a documentação pertencente ao Arquivo Histórico da Secretaria
de Estado (Segunda Seção), que contém os valiosos textos que narram as
perigosas interações do Vaticano com a Alemanha durante o Nazismo, quando o
pontífice que ocupava o trono de São Pedro era o Papa Pio XI, os quais
despertaram intensa curiosidade no meio acadêmico. Mas o termo ‘secreto’
encontra-se, atualmente, apenas na expressão que denomina o conjunto destes
textos, pois grande parte deles está hoje disponível para estudiosos e
pesquisadores.
Normalmente
o clero torna acessível um documento arquivado depois de 75 anos, desde que os
pontífices decidiram tornar este Arquivo parcialmente disponível. Tudo começou
com o Papa Leão XIII, em 1883, quando ele tomou a iniciativa de liberar os
escritos referentes a 1815 e seus predecessores para pesquisadores não ligados
à Igreja. O estudioso Ludwig Von Pastor teve o privilégio de ser o pioneiro no
estudo destes documentos. Os Arquivos abrigam hoje 85 quilômetros de estantes,
nas quais os documentos estão organizados em seis grupos - Cúria, Delegações
Papais, Singulares ou Familiares, Concílios, Ordens Religiosas, Mosteiros e
Confrarias e Outros.
Este
complexo está dividido em dois recintos modernos destinados à pesquisa, com
capacidade para receber a visita de pelo menos 1500 estudiosos. Há também um
aposento que abriga índices, uma biblioteca, uma sala de restauração e estudos
mais secretos, um laboratório de fotografias digitais e outro de informática além
do espaço administrativo. Os Arquivos secretos do Vaticano são mundialmente
conhecidos não só pela sua antiguidade, mas também pelo tipo e quantidade de
seus documentos (alguns remontam o século VIII D.C.) mas também à riqueza de
alguns deles.
O
conjunto de documentos que preserva o arquivo do Vaticano é de extraordinária
importância para a reconstrução da história política, religiosa, social, e
também de cidades, países, continentes. Por mais que argumentos como a
fragilidade de antigos documentos possam justificar a omissão destas
informações, “conspirólogos” acreditam que este local não é um simples depósito
de dados, mas uma espécie de área proibida que guarda detalhes que poderiam
mudar a história não apenas do cristianismo, mas da humanidade como conhecemos.
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