A
Maçonaria é um tema importante de discussão para teólogos e clérigos católicos.
A hierarquia católica romana é e têm estado historicamente, muito interessado
em Maçonaria. Por mais de 250 anos, o Vaticano vem condenando a Maçonaria e
procurando impedir a adesão de católicos às lojas.
Os
maçons têm muitas opiniões sobre o atual estado de coisas entre a Igreja
Católica Romana e a fraternidade maçônica ou Maçonaria. Parece haver um
crescente pressuposto de que a antipatia entre a Igreja e a Maçonaria é só uma
questão de importância histórica, e que as relações são tais que os católicos
podem se tornar maçons sem retaliação da igreja. Alguns irmãos e alguns
católicos acreditam que, desde o Segundo Concílio Ecumênico, que aconteceu de
1962 a 1965, e é conhecido informalmente como “Vaticano II”, a atitude da
igreja tem sido considerar a Maçonaria como uma esfera aceitável para interação
fraterna. Este trabalho tem como objetivo apresentar a atual lei da Igreja
Católica Romana sobre filiação de católicos romanos e sua participação na
Maçonaria, juntamente com o contexto histórico para o desenvolvimento daquela
lei da Igreja.
O
Direito Canônico da Igreja Católica Romana é definido como Aquele corpo de
direito constituído por legítima autoridade eclesiástica para a boa organização
e governo da Igreja como sociedade visível. O termo Canon é usado para designar
o corpo de lei que é próprio da Igreja Católica Romana. O Direito Canônico foi
durante séculos uma simples compilação de pronunciamentos do Papa, incluindo as
constituições e encíclicas, bem como Escritos Sagrados e outros documentos
gerados pela igreja, alguns dos quais bastante contraditórios. A primeira
coleção geralmente aceita de Leis da Igreja Católica Romana foi o que hoje é conhecido
como o Decretum de Graciano, formalmente conhecido como Concordia Discordant
Canonum. Este trabalho de um monge do século XII inclui constituições
apostólicas, Cânones dos Conselhos Sagrados e textos patrísticos, todos com
comentários. Os comentários de Graciano tentavam reconciliar as autoridades
conflitantes e compor um tratamento abrangente do direito canônico.
Em
séculos mais tarde, vários concílios da Igreja promulgaram leis, e papas
fizeram pronunciamentos, mas faltava uma declaração abrangente, consistente e
autoritária da lei da igreja. Por fim, o Codex Iuris Canonici, vulgarmente
conhecido como o Código de Direito Canônico foi promulgado pelo Papa Bento XV
em 27 de Maio de 1917 na Constituição Providentissim Ecclesia Mater. Ele entrou
em vigor em 19 de maio de 1918, e constituiu a primeira codificação do direito
canônico. Seja sob a influência de pronunciamentos papais ou sob o Código de
Direito Canônico, a atitude da Igreja em relação à Maçonaria tem sido
consistente. Após a Maçonaria tornar-se conhecida no mundo em geral no início
do século XVIII, a igreja tomou conhecimento dela, e se opôs a ela. Oito papas
emitiram pronunciamentos condenando explicitamente os maçons e as atividades e
princípios identificados com a Maçonaria. Os pronunciamentos assumiram a forma
de constituições, encíclicas, cartas apostólicas e sermões. Constituições são
os escritos ou declarações de posição do direito canônico, emitidos antigamente
pelos papas. Encíclicas são cartas do Papa aos bispos informando a posição da
Igreja sobre determinados assuntos.
Como
se pode dizer de ataques cada vez mais duros sobre a Maçonaria pelos papas, os
diferentes pronunciamentos papais parecem não ter impedido o progresso da
Maçonaria. A atitude do Vaticano não tem sido sempre a atitude do clero ou do
povo.
É
importante notar que, no século a condenação dos papas da época à Maçonaria não
foram promulgadas nos Estados Unidos pelo clérigo-chefe da igreja, o bispo John
Carroll. O Bispo Carroll escreveu numa carta em 1794, e falou sobre a questão
da loja como segue: “Não tenho a pretensão de que esses decretos (contra a
Maçonaria) sejam recebidos em geral pela Igreja, ou tenham total autoridade
nessas dioceses.” Esta não seria a última vez que os católicos americanos se
recusariam a apoiar livremente a posição do Vaticano com relação à Maçonaria.
Os
católicos romanos britânicos tinham uma atitude semelhante em relação à
autoridade da igreja. Havia Grãos Mestres Católicos romanos na Maçonaria Inglesa
durante o século 18, incluindo Thomas, o Duque de Norfolk que foi Grão-Mestre
da Primeira Grande Loja da Inglaterra em 1730. Robert Edward, O Nono Lord
Petre, que era considerado o chefe da comunidade católica na Inglaterra
tornou-se Grão Mestre da Primeira Grande Loja em 1772 e serviu por cinco anos.
Com
o advento do Código de Direito Canônico de 1917, a Igreja incorporou a atitude
de encíclicas papais anteriores em algo semelhante à lei ordinária. No Cânone
2335 do Código de Direito Canônico de 1917, a igreja declarou que “aqueles que
se juntam a uma seita maçônica ou outras sociedades do mesmo tipo conspiram
contra a Igreja ou contra as autoridades civis legítimas, estão sujeitos à
excomunhão”. Esta era a lei da Igreja expressa por décadas a partir de então.
Depois
que o Segundo Concílio Ecumênico (Vaticano II), começou um questionamento
clerical da condenação da Maçonaria pela Igreja. Em 1968, foi impresso um livro
na Espanha chamado La Masoneria Despues del Concilio (A Maçonaria depois do
Concílio Vaticano II). O autor era um sacerdote jesuíta, Pe. J.A. Ferrer
Benimeli, cuja tese era que a Maçonaria regular não deveria ser condenada. Ele
condenava somente a Maçonaria irregular, já que ela era atéia e anti-clerical.
A
crescente ambivalência da posição da Igreja sobre a Maçonaria tornou-se oficial
em 1974, quando o Cardeal Franjo Seper, Prefeito da Congregação para a Doutrina
da Fé, enviou cartas ao Cardeal John Kroll de Filadélfia e outros sobre a força
e o significado do Cânone 2335 do Código de Direito Canônico de 1917. O cardeal, sem dúvida, motivado pelo fervor
ecumênico da época afirmou que o Cânone ainda permanecia em vigor, mas que
desde que as leis penais estão sujeitas à interpretação estrita, a excomunhão
só seria aplicável aos católicos que se juntaram as organizações que conspiram
ativamente contra a Igreja Católica Romana. Dado que a Maçonaria não conspira
contra a Igreja Católica Romana, a carta foi interpretada por muitos para
significar que a declaração do Cardeal assinalava que as antigas restrições
contra a filiação de católicos romanos na Maçonaria haviam sido removidas.
Recorde-se
que em 1978 o Papa Paulo VI e Papa João Paulo I morreram e o Papa João Paulo II
fora eleito. Com ele, os conservadores na Igreja retomaram o poder. Sua
influência pode ser sentida pelo recuo e retirada da Congregação para a
Doutrina da Fé do ecumenismo. A Congregação para a Doutrina da Fé é uma
organização autoritária de alto nível no Vaticano, preocupado com a lei da
Igreja e pureza da doutrina. Em 2 de Março de 1981, apenas sete anos após a
carta do Cardeal Seper, a Congregação recuou da quase-tolerância da Maçonaria.
Ela emitiu a “Declaração sobre a Participação de Católicos em Associações
Maçônicas”. Nesta declaração, a carta de 1974, foi acusado de dar “azo a
interpretações errôneas e tendenciosas”. Com esta declaração, a Congregação
estava na verdade dizendo que as regras antigas relacionadas com a Maçonaria
estava de volta em pleno vigor.
A
Igreja Católica Romana atualmente opera sob o novo Código de Direito Canônico
promulgado em 1983. Este novo Código revisou o Cânone 2335 do Código de 1917, e
o incorporou no novo Cânone 1734 com o seguinte teor: “Aquele que se entra para
uma associação que conspira contra a Igreja deve ser punido com justa pena;
aquele que promove ou dirige tal associação, no entanto, deve ser punido com
interdito” Como pode se ver, o Cânone não impões mais a excomunhão aos
católicos maçons, nem sequer menciona diretamente os maçons. Uma característica
interessante do Código de 1983 é que parece diferenciar entre a simples adesão
a uma loja, para o qual a punição é uma “pena justa”, e a promoção ou ocupação
de cargos em tal sociedade, para a qual o castigo é um “interdito”.
Um
“interdito” é uma pena de punição ou vingança, através da qual os fiéis
católicos, permanecendo em comunhão com a Igreja, têm o acesso proibidos a
certos sacramentos e são proibidos de participar em determinados atos sagrados,
é uma censura. Aqueles gravados por um interdito pessoal estão proibidos de
celebrar ou assistir a ofícios divinos, e lhes é negado o enterro eclesiástico.
Parece, portanto, que onde os grupos maçônicos estão determinados a conspirar
contra a Igreja, os oficiais católicos de tais lojas estarão sujeitos a uma
penalidade mais severa que a dos membros regulares que sejam católicos.
Como
consequência do novo Código de Direito Canônico e da carta do Cardeal Seper, a
Igreja foi confrontada com a necessidade de responder à pergunta “uma vez que o
novo Código não prevê uma punição por pertencer a uma organização maçônica,
isso significa que a igreja aprova essa adesão quando não ocorrer conspiração
contra a Igreja Católica Romana?” Em outras palavras, teria havido uma
reaproximação entre a Maçonaria e o Catolicismo Romano? Muitas pessoas, desde a
promulgação do novo Código de Direito Canônico em 1983, se propuseram a
responder a essa pergunta. Na opinião deste autor, a pergunta foi respondida de
maneira conclusiva como negativa.
Em
26 de Novembro de 1983, mesmo ano em que a igreja adotou o Novo Direito
Canônico, a Congregação para a Doutrina da Fé emitiu um comunicado declarando
que “a posição negativa da Igreja sobre as associações maçônicas, portanto,
permanece inalterada, uma vez que seus princípios sempre foram considerados
incompatíveis com a doutrina da Igrej os católicos inscritos em associações
maçônicas estão envolvidos em pecado grave e não podem se aproximar da Santa
Comunhão”. Pode-se ver como esta nova declaração de política conflita com a
natureza ecumênica da carta do Cardeal Seper em 1974 e com as mudanças no
Direito Canônico. Claramente, houve um movimento retrógrado na atitude da
Igreja em relação à Maçonaria. A Congregação evitou anular diretamente sua
declaração de 1974, ao fazer uma distinção entre o direito penal e a
moralidade. Eles sustentaram que o que se pretendia em sua declaração de 1974
era que os católicos não podiam ser excomungados ou, de outra forma, punidos
apenas por serem maçons, na medida em que o grupo maçônico particular a que
eles pertenciam não atacasse a igreja. Mas, a Congregação declarou que era
imoral pertencer a grupos maçônicos, porque a Maçonaria era, na sua opinião, a
antítese aos ensinamentos e à autoridade da igreja. Claramente, o movimento em
direção a uma reaproximação entre a Maçonaria e a Igreja tinha sido perdido. Influenciados
pelas declarações da Congregação para a Doutrina da Fé, e a reversão da
tendência de curta duração para ecumenismo, em 1985, a Congregação dos Bispos
Americanos para Pequisa e Prática Pastoral publicou um relatório intitulado
“Maçonaria & Religião Naturalista”. O Relatório da Comissão Pastoral de
Pesquisa e Práticas declara que, apesar de não se ser excomungado por ser um
maçom, é de toda forma pecado pertencer a organizações maçônicas. O raciocínio
é que os princípios da Maçonaria são irreconciliáveis com os da Igreja. O
relatório prossegue, citando um estudo de seis anos da Maçonaria realizado
pelos bispos da Alemanha e o estudo da Maçonaria norte americana realizado pelo
professor William Whalen. O Relatório do Comitê cita fontes afirmando que os
princípios e rituais básicos da Maçonaria encarnam uma religião naturalista,
participação ativa na qual é incompatível com a fé e a prática cristãs. Aqueles
que conscientemente abraçam esses princípios estão “cometendo pecado grave”.
Como
era de se esperar, e em consonância com sua história, a igreja americana em
geral é mais tolerante com a Maçonaria. Talvez a atitude dos católicos
americanos e da igreja norte americana foi mais bem expressa em uma carta do
Bispo Fiorenza, da diocese de Galveston Houston, no qual ele dizia: Na visão
histórica, a Maçonaria na Europa e na América Latina se opôs à Igreja Católica
e tem sido virulenta em sua atitude anticlerical. Em grande medida, no entanto,
essa mentalidade não é típica da Maçonaria nos Estados Unidos. Existe uma
preocupação de que certos grupos da Maçonaria exibam todos os elementos de uma
religião, mas proíbam a menção a Jesus Cristo dentro da loja. Isto, também, não
é exemplificado em grupos maçônicos nos Estados Unidos, mas é encontrado em
outras partes do mundo. A maioria dos maçons neste país participa por razões
sociais e empresariais.
Em
geral, não tem havido qualquer conflito entre a Maçonaria e a Igreja Católica
neste país. Ambas as organizações têm existido em harmonia nos Estados Unidos. Embora
a aparente tolerância de católicos norte americanos em relação à Maçonaria seja
encorajadora, o Vaticano e a Conferência Episcopal dos EUA baixou regras
determinantes pelas quais os católicos americanos em geral devem se pautar. O
último prego no caixão de qualquer possível aproximação entre a Igreja Católica
e a Maçonaria parece ter sido uma declaração publicada no jornal oficial do
Vaticano L’Osservatore Romano pelo Cardeal Joseph Ratzinger, “Os fiéis que
pertencem às associações maçónicas estão em estado de pecado grave e não podem
receber a sagrada comunhã. Em uma audiência O Sumo Pontífice João Paulo II
aprovou e ordenou a publicação desta declaração”. Assim, o papa atual está
registrado como se opondo à adesão maçônica para católicos.
Em
edições subsequentes do jornal, a realização de reunião da Congregação para a
Doutrina da Fé, aprovada pelo papa, foi atualizada e reiterada. Para aqueles de
tendência filosófica, a ação de 11 de março de 1985 do L’Osservatore Romano
(Edição em língua Inglesa) contém um artigo que defende que a Maçonaria
estabelece uma concepção simbólica relativista de moral inaceitável para o
catolicismo.
Assim,
e apesar do segundo Concílio Ecumênico, o tom hostil dos pronunciamentos da
Igreja Católica Romana em relação à Maçonaria permanece inabalado, e as
atitudes oficiais da igreja e a lei canônica não são significativamente
diferentes daqueles de séculos anteriores. A atmosfera e a tradição
estabelecida por Papas e maçons mortos há muito tempo continua a assombrar a
Maçonaria norte-americana. Ao negar a comunhão aos católicos romanos que são
maçons, a Igreja nega aos católicos romanos obedientes a oportunidade de
compartilhar a irmandade da Maçonaria, e os Maçons perdem a oportunidade de
compartilhar laços fraternais com muitos católicos romanos.
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